Mediunidade e Ciência: um Tabu no OraculismoSpoiler: ainda não dá para misturar as coisas.
- A Cartomante
- 14 de mar.
- 5 min de leitura
No final de fevereiro, recebi de diferentes pessoas a mesma notícia: “Médiuns têm alterações genéticas comprovadas cientificamente”.
Filha de um cientista, sempre me perguntei o que meu pai pensaria da minha carreira — um caminho sem comprovação científica. Até que, certo dia, ele me disse:
“Nem tudo que ainda não foi comprovado pela ciência deixa de ser verdade ou de ter um fundamento. Muitas descobertas levaram anos para serem reconhecidas, porque, por exemplo, não existiam os recursos adequados para estudá-las. Há muitas respostas que ainda não temos.”
Ouvir isso me trouxe um certo alívio. Como qualquer pessoa sensitiva, já passei por momentos em que me senti estranha, até mesmo louca. Como explicar que, ao virar um conjunto de cartas, consigo compreender o que está acontecendo na vida de alguém? Ou que, desde criança, sonho com familiares falecidos que me trazem informações sobre eventos que eu não teria como saber de outra forma? Ou ainda que, ao pisar em determinado local, posso sentir se ali ocorreu algo violento?
São muitas perguntas sem resposta que sempre me inquietaram.
Com o tempo, me tornei agnóstica teísta: acredito que existe algo além, mas que ainda não conseguimos explicar completamente — nem pela religião, nem pela espiritualidade, nem pela ciência. Ainda assim, sempre achei plausível a ideia de que o cérebro de pessoas sensitivas pode simplesmente funcionar de forma diferente.
Diante disso, fiquei empolgada quando essa notícia começou a pipocar no meu Direct, no WhatsApp… Recebi mensagens de clientes, amigos e até de uma querida amiga que lembrou das minhas teorias na hora.
Cliquei entusiasmada e fui direto à fonte para ler o estudo. Passei horas analisando-o ao longo dos dias, tentando compreender cada detalhe. E, infelizmente, percebi que as falhas eram muitas — algo que também foi apontado por cientistas que acompanho.
As duas principais falhas que invalidam o estudo são:
Diferença de idade entre os grupos: o grupo de médiuns e o grupo de controle (não médiuns) tinham, em média, dez anos de diferença. Em pesquisas desse tipo, essa discrepância cria um abismo metodológico.
Autodeclaração: o grupo de médiuns foi composto por autodeclarados. Isso torna a pesquisa um terreno escorregadio, pois levanta questões como: o que define mediunidade? Como diferenciar um médium de alguém que pode ter um transtorno psicológico que o faz acreditar possuir habilidades mediúnicas?
Nos dias seguintes, confesso que me senti um pouco desanimada. Eu tinha esperança de ver minha “esquisitice” respaldada pela ciência. Mas ainda guardo a certeza de que, um dia, as respostas virão.
Ciência x Espiritualidade: precisamos mesmo de uma explicação?
Para um oraculista ou terapeuta holístico, é essencial compreender que existe uma separação entre nossas técnicas, dons e a ciência. Pelo menos até aqui.
Ter uma validação científica seria um detalhe a mais em algo que sempre trilhou um caminho baseado na fé e na confiança. Como diz a famosa frase:
“Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay.”
O que me preocupa, no entanto, é a quantidade de pessoas que defendem esse estudo sem ter conhecimento para contra-argumentar. Esse, para mim, é o tabu dentro do mundo esotérico: não precisamos de uma explicação, e jamais devemos inventar uma que não temos.
Se pudesse fazer um apelo à comunidade holística e esotérica, seria este: parem de inventar justificativas científicas para o que fazemos. Sejam transparentes. Digam com orgulho “leio cartas” ou “aplico Reiki”, sem precisar validar isso com explicações infundadas. A linha da ética não é tão tênue assim, e é perfeitamente possível que ciência e espiritualidade coexistam, cada uma em seu espaço, com respeito mútuo.
Experiências que não cabem na lógica
Sou casada com um ateu. Minha sogra é espírita. No início do meu relacionamento, hesitei em conversar com meu marido sobre minha mediunidade, ainda que tenha mencionado desde os primeiros dias que ela fazia parte de mim. Ele sempre respeitou, mas o assunto não era recorrente.
Quase ao mesmo tempo em que engravidei, meu sogro faleceu. Ele nunca conheceu minha filha, e foi uma perda muito dolorosa para meu marido, que o admirava profundamente.
Uma noite, quando minha filha tinha cerca de quatro anos, sonhei que estávamos brincando na praia — um lugar onde íamos sempre. De repente, vi meu sogro em um pequeno barco, além das ondas. Nadei até ele e subi na embarcação.
O barco balançava suavemente, e ele ligou um rádio, de onde tocava "Querência Amada". Conversamos (ou pelo menos o que conta como tempo em um sonho). Ele queria saber sobre minha filha, sobre meu marido… Depois disso, acordei.
Ao virar para o lado, vi que minha filha tinha subido na cama durante a madrugada e estava despertando também. Meu marido, absolvido pelos tampões de ouvido, dormia.
Então, minha filha sorriu e me disse:
“Eu estava brincando na praia naquele lugar que a gente gosta! Tu tava no sonho também! Não lembro bem, mas tu tava num barco… E tinha uma música! Daquelas que o papai coloca quando faz churrasco! Aquela que canta assim: ‘Olha para o céu azul, e grita junto comigo, viva o Rio Grande do Sul!’”
Naquele dia, contei o sonho para meu marido. Desde então, passamos a falar mais sobre esse meu lado. Ele não se converteu, não virou uma pessoa super esotérica — continua sendo o homem mais científico que conheço. Mas respeita quando essas coisas acontecem, no mesmo espírito em que meu pai encarou minha escolha profissional.
Conclusão
Eu poderia passar horas aqui contando histórias da minha mediunidade — sobre a casa “mal-assombrada” onde vivi na adolescência, sobre quando vi minha falecida avó aos cinco anos ou sobre o sonho premonitório que tive com minha filha antes de ela nascer.
Mas o ponto que quero destacar hoje é outro: a mediunidade não tem explicação científica, é difícil de definir e requer responsabilidade.
Por isso, toda vez que alguém me pergunta: “Eu deveria desenvolver minha mediunidade?”, sempre me questiono o que essa pessoa entende por “desenvolver”. Seria aprender a usar? Guardar em uma caixinha?
Acredito que o primeiro passo para esse caminho seja discernimento. Perguntar-se: quando um sonho é só um sonho? Quando um “sinal” é, na verdade, reflexo da minha vontade? E quando algo realmente pertence ao campo do inexplicável?
Nem todo mundo tem a capacidade de guiar esse processo, então cuidado com convites para “desenvolvimento mediúnico”. O melhor ponto de partida é conhecer a si mesmo para entender o que faz sentido e o que pode ser apenas ilusão.
Deixo essas reflexões como uma semente. Se quiser conversar mais sobre o assunto, me escreva ou comente!

Com carinho,
Kim Knoche Faria – A Cartomante
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